Existe uma discussão acerca dos critérios utilizados para definir a programação musical do I Grito Rock Parnaíba. É no intuito de esclarecer as dúvidas dos artistas e do público em geral que publicamos esta nota aberta. Dentre os vários comentários que questionam a curadoria do evento, depreendem-se duas críticas principais: a) o fato de a banda parnaibana Scud ter sido escalada para compor a programação mesmo não tendo inscrito o perfil na plataforma TNB (Toque no Brasil), cuja função é mediar o contato entre artistas e produtores; b) a não-escalação de alguns artistas locais, que, segundo algumas vozes mais ativas nos comentários, estariam sendo excluídos por não manterem relações próximas com os organizadores. Além disso, argumentam terem um perfil mais bem estruturado que alguns selecionados;
No entanto, antes de responder os questionamentos acima mencionados, faz-se necessário explanar, ainda que de maneira breve, a trajetória do Coletivo Porto Salgado (organizador do evento) a partir das ações já realizadas na cidade de Parnaíba.
O Coletivo Porto Salgado foi articulado a partir do contato de alguns artistas e entusiastas da área cultural de Parnaíba com membros do Circuito Fora do Eixo (rede de coletivos com mais de cem pontos espalhados por toda a América Latina) na XI Feira da Música de Fortaleza, em agosto de 2012. Fascinados com a possibilidade de inserir definitivamente Parnaíba no rico calendário de atividades que compõem esta rede, imediatamente foram realizadas várias reuniões ABERTAS PARA TODA COMUNIDADE, no então Espaço Cultural Porto Salgado (bar do Teófilo), no intuito de definir diretrizes e ações prioritárias a partir das demandas dos próprios artistas. Na medida em que os trabalhos eram realizados, foi definido, de maneira espontânea, um núcleo durável que passou a coordenar as atividades, sempre mantendo contato permanente com vários parceiros locais e se mostrando aberto para sugestões.
Desde então, além de uma programação permanente com músicos de Parnaíba, realizamos vários concertos com artistas de outras cidades, dentre os quais estão Clínica Tobias Blues, Narguilê Hidromecânico, Os Caipora, Danilo Rudah (Teresina-PI), Macaco Bong (Cuiabá-MT), Aeromoças e Tenistas Russas (São Carlos-SP). Além disso, promovemos todas as quintas-feiras o Sarau do Acontece, plataforma multilinguagem que tem revelado novos talentos da arte parnaibana que não possuíam espaço para exibirem seus trabalhos. Atualmente, o coletivo Porto Salgado trabalha com frentes temáticas nas áreas da música, de mídia, das letras, das poéticas visuais, do meio-ambiente e da articulação política.
Estimulados com os resultados alcançados em tão curto espaço de tempo, surgiu a idéia entre os membros mais ativos de realizar uma edição do Grito Rock em Parnaíba, maior festival de artes integradas do mundo (em 2013 o festival ocorre em trezentas cidades) e uma das principais atividades do Circuito Fora do Eixo.
Assim, foram definidos alguns critérios para selecionar os artistas que iriam compor a programação musical do evento: os selecionados deveriam possuir um repertório majoritariamente composto por canções autorais: a programação deveria prezar pela diversidade de estilos; o envolvimento com a militância em prol da música independente seria outro fator que agregaria força à candidatura; além da capacidade de agregar esteticamente ao evento. De acordo com estes critérios, selecionamos o seguinte line up: Teófilo, Attma, Bugiganga, Scud (Parnaíba), Wake Up, Killer! (Teresina-PI), The Red Boots (Mossoró-RN).
Passemos, agora, às críticas. É necessário lembrar que cada edição do festival, ainda que conte com a plataforma TNB para fazer a conexão entre produtores e artistas, possui autonomia para fazer a curadoria de acordo com os critérios estabelecidos internamente. É neste sentido que a apresentação do Scud pareceu-nos inquestionável, tanto pela capacidade da banda de agregar esteticamente ao evento como pelo importante papel exercido no estímulo ao surgimento de outras bandas na cidade.
Um exemplo desta prática pode ser observado no Grito Rock São Paulo, que contou com a participação do lendário cantor e compositor Lobão. Ainda que não tivesse perfil inscrito na plataforma TNB, “Big Wolf” foi escalado na programação do evento. Tomadas as devidas proporções, é o mesmo caso do Scud e do Grito Rock Parnaíba.
No que diz respeito ao segundo questionamento, é necessário frisar que a proximidade entre membros de algumas bandas selecionadas e artistas não é determinante para a escalação no festival. Prova disso é o fato de terem sido escolhidos bandas de fora de Parnaíba cujo contato entre conjuntos e produtores era inexistente, feito única e exclusivamente via plataforma TNB. No segundo ponto, seria imaturo julgar uma candidatura única e exclusivamente pela qualidade do perfil no TNB, principalmente tendo em vista que o Attma faz a maioria dos concertos em Parnaíba, o que nos dá a possibilidade de julgar com conhecimento de causa a qualidade da banda.
Por último, gostaríamos de reiterar a vontade de promover um evento que pudesse congregar todos os artistas inscritos que ficaram de fora. No entanto, as questões logísticas e financeiras inviabilizam, por hora, um festival com mais de seis atrações. Obviamente, virão eventos futuros e é objetivo do Coletivo Porto Salgado congregar o maior número de artistas, mas tudo ao seu tempo.
Esperando ter esclarecido o incidente sobre a seleção das bandas no I Grito Rock, contamos com a presença de todos, não somente no festival que segue, mas em todas as nossas reuniões e próximos eventos. Estamos à disposição para ouvir sugestões.
Sucesso a todos,
Núcleo de Comunicação do Coletivo Porto Salgado.
